quarta-feira, 27 de agosto de 2014

HISTORIA GERAL DA IGREJA PRESBITERIANA

 

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                                      Expansão – Europa Continental
• A partir da Suíça, o calvinismo difundiu-se na França, no vale do Reno (da Alemanha até a Holanda), na Europa Oriental (Boêmia, Polônia, Hungria), e nas Ilhas Britânicas (Escócia, Inglaterra e Irlanda).
• A Academia de Genebra, fundada em 1559, foi muito importante para a difusão inicial do movimento reformado em toda a Europa. Ela preparou centenas de líderes que voltaram a seus países de origem, especialmente a França, e difundiram as novas idéias.
• As perseguições religiosas, particularmente na França, Itália e Países Baixos, também contribuíram para que a fé reformada fosse levada para outras partes da Europa.
França. O movimento reformado experimentou enorme crescimento na década de 1550, apesar de intensas perseguições. Em 1559 reuniu-se o primeiro sínodo da Igreja Reformada da França, representando cerca de duas mil igrejas locais, que aprovou a Confissão Galicana. Pela primeira vez, o presbiterianismo foi organizado em âmbito nacional. Muitos dos reformados franceses, os huguenotes, eram artesãos, comerciantes e nobres, concentrando-se especialmente no oeste e sudoeste do país. Seus conflitos com o partido católico liderado pela família Guise-Lorraine levaram a um longo período de guerras religiosas (1562-1598), cujo episódio mais sangrento foi o massacre do Dia de São Bartolomeu (24-08-1572), em que milhares de huguenotes foram mortos à traição em Paris e no interior da França, entre eles o famoso Almirante Gaspard de Coligny. A paz só foi restaurada em 1598, quando o rei Henrique IV, um ex-huguenote, promulgou o Edito de Nantes, concedendo liberdade religiosa aos reformados. Esse edito foi revogado em 1685, fazendo com que 300 mil huguenotes abandonassem a França. Os remanescentes formaram o que ficou conhecido como “a igreja no deserto.”
Alemanha. Desde cedo o movimento reformado penetrou no sul do país, procedente da vizinha Suíça. O movimento cresceu com a chegada de milhares de refugiados vindos de outras regiões (França, Países Baixos). Estrasburgo foi um importante centro reformado entre 1521 e 1549, tendo como grande líder o reformador Martin Bucer. Calvino ali esteve por três anos (1538-41). Em Heidelberg, o príncipe Frederico III criou uma grande universidade que tornou-se o centro do pensamento reformado na Alemanha. Nessa cidade foi escrito o importante Catecismo de Heidelberg (1563). A Guerra dos Trinta Anos (1618-48) resultou no reconhecimento final das igrejas reformadas alemãs, que receberam o influxo de sessenta mil refugiados huguenotes após a revogação do Edito de Nantes.
Holanda: inicialmente, o calvinismo surgiu no sul dos Países Baixos (Antuérpia, 1555). Em dez anos, formaram-se mais de trezentas igrejas, em parte devido à chegada de imigrantes huguenotes que fugiam das guerras religiosas em seu país. Essas igrejas adotaram como sua declaração de fé a Confissão Belga, escrita em 1561. O calvinismo foi implantado na Holanda no contexto da guerra de independência contra a Espanha, iniciada em 1566 sob a liderança de Guilherme de Orange. Como resultado do conflito, os Países Baixos dividiram-se em Bélgica e Luxemburgo (católicos) e Holanda (reformada). O primeiro sínodo nacional das igrejas reformadas holandesas reuniu-se em 1571 na cidade de Emden, na Alemanha, e adotou um sistema presbiterial de governo baseado no modelo francês. Eventualmente, a igreja reformada tornou-se oficial, embora nem toda a população tenha aderido ao movimento. No início do século XVII, uma disputa teológica resultou no Sínodo de Dort (1618-19), que rejeitou as idéias de Jacó Armínio acerca da predestinação e afirmou os chamados cinco pontos do calvinismo (depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos).
Europa Oriental: na década de 1540, graças a contatos com cidades suíças, surgiram igrejas reformadas na Polônia e Boêmia (Checoslováquia) e mais tarde também na Hungria. Na Boêmia, o movimento reformado associou-se aos Irmãos Boêmios, os sucessores do antigo movimento liderado pelo pré-reformador João Hus, morto em 1415. Na Polônia e na Lituânia, as igrejas calvinistas experimentaram grande crescimento, mas eventualmente foram suprimidas pela Contra-Reforma. A fé reformada foi introduzida na Hungria em 1549, através de contatos com Zurique, mas as igrejas sofreram perseguições de 1677 a 1781. Em 1970, a igreja reformada húngara tinha cerca de um milhão e meio de membros. Também existe uma grande comunidade reformada na Romênia (700 mil membros em 1963).
II. Expansão – Ilhas Britânicas
Escócia: o protestantismo reformado foi levado para a Escócia por George Wishart, que estudara na Suíça e foi morto na fogueira em 1546. As primeiras igrejas reformadas surgiram no final da década seguinte. Os eventos se precipitaram com o retorno do líder John Knox (c. 1514-1572), que passou alguns anos em Genebra como refugiado, estudou aos pés de Calvino e retornou ao seu país em 1559. No ano seguinte, o Parlamento aboliu o catolicismo e adotou a fé reformada (Confissão Escocesa). Em dezembro de 1560, reuniu-se a primeira assembléia geral da Igreja Presbiteriana escocesa, que elaborou o Livro de Disciplina. Todavia, o Parlamento não aceitou esse primeiro Livro de Disciplina – que prescrevia a forma presbiteriana de governo -, mas manteve o episcopado como instrumento de controle estatal da igreja. Ironicamente, entre 1561 e 1567 a Escócia foi governada por uma rainha católica, Maria Stuart. Após a morte de Knox, Andrew Melville (1545-1622), outro ex-exilado em Genebra, tornou-se o principal defensor do sistema presbiteriano e de uma igreja autônoma do estado. Os próximos quatro reis, especialmente Carlos II (1660-85), procuraram impor o anglicanismo e perseguiram os presbiterianos. Estes fizeram um pacto nacional para defender a sua fé e ficaram conhecidos como “covenanters” (pactuantes). Somente em 1689 o presbiterianismo foi estabelecido definitivamente, embora algumas modificações feitas pelo Parlamento, como a Lei do Patronato Leigo (1717), tenham produzido várias divisões na igreja. Em 1970, a Igreja da Escócia tinha cerca de 1 milhão e 155 mil membros comungantes.
Inglaterra: desde o reinado de Eduardo VI (1547-1553) surgiram fortes influências reformadas neste país. Martin Bucer, o reformador de Estrasburgo, passou seus últimos anos na Inglaterra. Calvino correspondeu-se com o rei Eduardo, com Somerset, o lorde protetor, e com Thomas Cranmer, o arcebispo de Cantuária. O Livro de Oração Comum e os Trinta e Nove Artigos revelam clara influência reformada. Durante o reinado de Maria Tudor (1553-58), a Sanguinária, muitos protestantes ingleses refugiaram-se em Zurique e Genebra. Porém, a rainha Elizabete I (1558-1603) não apreciava os aspectos populares da forma presbiteriana de governo, preferindo uma estrutura episcopal que deixava o controle último da igreja nas mãos das autoridades civis.
No seu reinado, surgiram os puritanos, alguns dos quais sustentavam princípios presbiterianos. Os reis Tiago I e Carlos I (1625-1649), que governavam a Inglaterra e a Escócia, continuaram a opor-se aos puritanos. Carlos fez guerra contra os escoceses presbiterianos e viu-se em dificuldades. Para isso, precisou convocar a eleição de um parlamento, que teve uma maioria puritana. Dissolvido o parlamento, houve nova eleição que resultou numa maioria puritana ainda maior. A conseqüência foi a guerra civil, que terminaria com a execução do rei. Esse parlamento puritano convocou a Assembléia de Westminster (1643-49), que produziu os “padrões presbiterianos” de culto, forma de governo e doutrina (Confissão de Fé e Catecismos). Quando tais padrões foram aprovados pelo parlamento, a Igreja da Inglaterra deixou de ser episcopal e tornou-se presbiteriana. Porém, depois que Carlos II tornou-se rei em 1660, houve a restauração do episcopado e seguiram-se vários anos de repressão contra os presbiterianos. A Igreja Presbiteriana da Inglaterra, criada em 1876, tinha 60 mil membros comungantes em 1970.
Irlanda: a tradição reformada teve início na Irlanda com a “Colônia de Ulster”, a partir de 1606. O governo inglês, no esforço de “domesticar” os irlandeses, plantou comunidades inglesas e irlandesas nas regiões devastadas pela guerra ao norte da ilha. Aos imigrantes escoceses, que levaram consigo o seu presbiterianismo, uniram-se puritanos ingleses e huguenotes franceses. Houve uma rígida separação étnica entre os novos moradores e os irlandeses católicos do sul, e grande violência destes contra os presbiterianos. Graças aos capelães de um exército pacificador, um presbitério foi fundado no Ulster em 1642 e em 1660 já havia cinco deles. Os colonos alcançaram prosperidade na nova terra, mas também se viram sujeitos a restrições políticas, econômicas e religiosas impostas pelo governo inglês, além de calamidades naturais como a seca. Com isso, a partir de 1715, os “escoceses-irlandeses” começaram a sua grande migração para os Estados Unidos. Até 1775, pelo menos 250 mil cruzaram o Atlântico. Em 1970, a Igreja Presbiteriana da Irlanda tinha cerca de 140 mil membros comungantes.
III. A Assembléia de Westminster
Antecedentes: o rei Carlos I (1625-1649) queria impor o anglicanismo aos puritanos ingleses e aos presbiterianos escoceses. Porém, estes últimos se rebelaram e enfrentaram com êxito os exércitos reais. Precisando de mais tropas e dinheiro, Carlos viu-se forçado a promover a eleição de um parlamento. Para frustração do rei, os ingleses elegeram um parlamento puritano, que foi prontamente dissolvido. Feita nova eleição, a maioria puritana tornou-se ainda mais expressiva. Diante da recusa do parlamento em ser novamente dissolvido, resultou uma guerra civil.
A Assembléia: por setenta e cinco anos os puritanos vinham insistindo para que a Igreja da Inglaterra tivesse uma forma de governo, doutrinas e culto mais puros. Assim, o parlamento convocou a Assembléia de Westminster, composta de 121 dos mais capazes pastores da Inglaterra, 20 membros da Casa dos Comuns e 10 membros da Casa dos Lordes. Todos os 121 teólogos eram ministros da Igreja da Inglaterra e quase todos eram calvinistas. Quanto ao governo da igreja, a maioria era a favor da forma presbiteriana, muitos desejavam a forma congregacional e uns poucos defendiam a forma episcopal. Essa questão gerou os debates mais longos e acalorados da Assembléia, que reuniu-se na Abadia de Westminster, em Londres, a partir de 1º de julho de 1643. Os trabalhos se estenderam por cinco anos e meio, durante os quais houve mais de mil reuniões do plenário e centenas de reuniões de comissões e sub-comissões.
Os escoceses: tão logo a Assembléia iniciou os seus trabalhos, as forças parlamentares começaram a sofrer reveses na guerra. O parlamento buscou o auxílio da Escócia, que concordou em ajudar sob uma condição – que todos os membros da Assembléia de Westminster e do parlamento assinassem um pacto solene comprometendo-se a manter e defender a Igreja Presbiteriana da Escócia e a reformar a igreja da Inglaterra e da Irlanda em sua doutrina, governo, culto e disciplina, de acordo com a Palavra de Deus. Isso foi aceito. Os presbiterianos escoceses também puderam enviar representantes à Assembléia de Westminster, quatro pastores e dois presbíteros, que participaram dos trabalhos sem direito a voto. Eles exerceram uma influência desproporcional ao seu número. Logo que chegaram e foi assinado o pacto solene (setembro de 1643), houve uma mudança radical no trabalho da Assembléia. Até então, a idéia era revisar os Trinta e Nove Artigos da Igreja Anglicana. Agora, passou-se a fazer uma reforma completa da igreja.
Os documentos: a Assembléia de Westminster caracterizou-se na somente pela erudição teológica, mas por uma profunda espiritualidade. Gastava-se muito tempo em oração e tudo era feito em um espírito de reverência. Cada documento produzido era encaminhado ao parlamento para aprovação, o que só acontecia após muita discussão e estudo. Os chamados “Padrões Presbiterianos” elaborados pela Assembléia foram os seguintes:
1. Diretório do Culto Público: concluído em dezembro de 1644 e aprovado pelo parlamento no mês seguinte. Tomou o lugar do Livro de Oração Comum. Também foi preparado o Saltério: uma versão métrica dos Salmos para uso no culto (novembro de 1645).
2. Forma de Governo Eclesiástico: concluída em 1644 e aprovada pelo parlamento em 1648. Instituiu a forma de governo presbiteriana em lugar da episcopal, com seus bispos e arcebispos.
3. Confissão de Fé: concluída em dezembro de 1646 e sancionada pelo parlamento em março de 1648.
4. Catecismo Maior e Breve Catecismo: concluídos no final de 1647 e aprovados pelo parlamento em março de 1648.
5. Conseqüências: com o auxílio dos escoceses, as forças parlamentares derrotaram o rei Carlos I, que foi decapitado em 1649. O comandante vitorioso, Oliver Cromwell, assumiu o governo. Porém, em 1660, Carlos II subiu ao trono e restaurou o episcopado na Igreja da Inglaterra. Teve início nova era de perseguições contra os presbiterianos. Na Escócia, a Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana adotou os Padrões de Westminster logo que foram aprovados, deixando de lado os seus próprios documentos de doutrina, liturgia e governo que vinham da época de John Knox. Isso é ainda mais surpreendente diante do fato de que somente quatro pastores escoceses participaram da Assembléia de Westminster (Alexander Henderson, Robert Baillie, George Gillespie e Samuel Rutherford). As razões para isso foram os méritos dos padrões de Westminster e o desejo de maior unidade entre os presbiterianos das Ilhas Britânicas. Da Escócia, esses padrões foram levados para outras partes do mundo.
Fonte: Walter L. Lingle, Presbyterians: Their History and Beliefs (Richmond: John Knox Press, 1960).
Os Padrões de Fé de Westminster:
Observação: em 1991, a Casa Editora Presbiteriana publicou uma edição especial da Confissão de Fé e dos Catecismos contendo, além do texto desses documentos, a reprodução de todas passagens bíblicas pertinentes a cada tópico.
Confissão de Fé: compõe-se de 33 capítulos, que abordam os seguintes tópicos:
A Doutrina das Escrituras
1. Da Escritura Sagrada
A Doutrina de Deus (Ser e Obras)
2. De Deus e da Santíssima Trindade
3. Dos Decretos Eternos de Deus
4. Da Criação
5. Da Providência
A Doutrina da Salvação (Objetiva)
6. Da Queda do Homem, do Pecado e do seu Castigo
7. Do Pacto de Deus com o Homem
8. De Cristo o Mediador
9. Do Livre Arbítrio
A Doutrina da Salvação (Subjetiva)
10. Da Vocação Eficaz
11. Da Justificação
12. Da Adoção
13. Da Santificação
14. Da Fé Salvadora
15. Do Arrependimento para a Vida
16. Das Boas Obras
17. Da Perseverança dos Santos
18. Da Certeza da Graça e da Salvação
A Doutrina da Vida Cristã
19. Da Lei de Deus
20. Da Liberdade Cristã
21. Do Culto Religioso e do Domingo
A Doutrina do Cristão na Sociedade
22. Dos Juramentos Legais e dos Votos
23. Do Magistrado Civil
24. Do Matrimônio e do Divórcio
A Doutrina da Igreja
25. Da Igreja
26. Da Comunhão dos Santos
27. Dos Sacramentos
28. Do Batismo
29. Da Ceia do Senhor
30. Das Censuras Eclesiásticas
31. Dos Sínodos e dos Concílios
A Doutrina das Últimas Coisas
32. Do Estado do Homem depois da Morte e da Ressurreição dos Mortos
33. Do Juízo Final
Apêndice
34. Do Espírito Santo
35. Do Amor de Deus
Observação quanto ao texto da Confissão de Fé encontrado em A Confissão de Fé, o Catecismo Menor e o Breve Catecismo: Exemplar do Líder, 1ª ed. especial (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1991):
Os Capítulos 34 e 35 foram acrescentados pela Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América (a Igreja do Norte) em 1903. A seção intitulada “A Autoridade da Confissão de Fé e dos Catecismos” (pág. 162-F) foi escrita pela Rev. John M. Kyle. (Ver a “Nota Histórica” que consta de edições anteriores da Confissão de Fé).
Catecismo Maior: compõe-se de 196 perguntas e respostas distribuídas em três seções:
1ª Parte: Da finalidade do ser humano, da existência de Deus, da origem e da veracidade das Escrituras – Perguntas 1-5
2ª Parte: O que o ser humano deve crer sobre Deus – Perguntas 6-90
Deus ……………………………….. 6-8
Trindade ………………………….. 9-11
Decreto …………………………… 12-14
Criação …………………………… 15-17
Providência ……………………… 18-20
Queda ……………………………… 21-29
Pacto ………………………………. 30-35
Cristo, o Mediador ……………. 36-56
Salvação …………………………. 57-61
Igreja ………………………………. 62-65
União Vital ……………………… 66, 69
Vocação Eficaz ………………… 67-69
Justificação ……………………… 70-73
Adoção ……………………………. 74
Santificação ……………………… 75-78
Perseverança …………………….. 79-81
Últimas Coisas ………………….. 82-90
3ª Parte: O que as Escrituras requerem do ser humano como seu dever
Perguntas 91-196
A Lei de Deus …………………… 91-97
Os 10 Mandamentos ………….. 98-148
Pecado …………………………….. 149-153
Meios de Graça ………………… 154
Palavra ……………………………. 155-160
Sacramentos …………………….. 161-177
Oração …………………………….. 178-185
O Pai Nosso …………………….. 186-196
(c) Breve Catecismo: possui 107 perguntas e respostas, sintetizando os pontos mais importantes dos documentos maiores. Inclui uma abordagem detalhada dos Dez Mandamentos (perguntas 41-81).
IV. O Presbiterianismo nos Estados Unidos
Os puritanos: o calvinismo chegou à América do Norte com os puritanos ingleses que se radicaram em Massachusetts no início do século XVII. O primeiro grupo fixou-se em Plymouth em 1620 e o segundo fundou as cidades de Salem e Boston em 1630. Nas décadas seguintes, mais de 20 mil puritanos cruzaram o Atlântico em busca de liberdade religiosa e novas oportunidades. Todavia, esses calvinistas optaram pelo forma de governo congregacional, não pelo sistema presbiteriano.
Grupos reformados: muitos calvinistas que aceitavam a forma de governo presbiteriana vieram do continente europeu. Dentre os primeiros estavam os holandeses que fundaram Nova Amsterdã (depois Nova York) em 1623. Os huguenotes franceses também foram em grande número para a América do Norte, fugindo da perseguição religiosa em sua pátria. Um numeroso contingente de reformados alemães igualmente emigrou para os Estados Unidos entre 1700 e 1770. Esses imigrantes formaram as suas próprias denominações e mais tarde muitos deles ingressaram na Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos.
Os escoceses: muitos presbiterianos escoceses foram diretamente da Escócia para os Estados Unidos nos primeiros tempos da colonização. Todavia, foram os escoceses-irlandeses os principais responsáveis pela introdução do presbiterianismo naquele país. Durante o século XVIII, pelo menos 300 mil cruzaram o Atlântico. Eles se radicaram principalmente em Nova Jersey, Pensilvânia, Maryland, Virgínia e nas Carolinas. No oeste da Pensilvânia, eles fundaram Pittsburgh, a cidade mais presbiteriana dos Estados Unidos. O Rev. Ashbel G. Simonton era descendente desses escoceses-irlandeses da Pensilvânia.
Francis Makemie: No século XVII as comunidades presbiterianas dos Estados Unidos viviam dispersas. Foi só no início do século seguinte que elas começaram a unir-se em concílios. Nesse esforço, destacou-se o Rev. Francis Makemie (1658-1708), considerado o “pai do presbiterianismo americano.” Ordenado na Irlanda do Norte em 1683, ele foi logo em seguida para a América do Norte. Makemie fundou diversas igrejas em Maryland e viajou extensamente encorajando os presbiterianos. Como a Igreja Anglicana era a igreja oficial de várias colônias, ele sofreu muitas perseguições. Chegou mesmo a ser preso em Nova York em 1706.
Organização: sob a liderança de Makemie, foi organizado em 1706 o Presbitério de Filadélfia. Em 1717, organizou-se o Sínodo de Filadélfia, composto de quatro presbitérios. Ao todo, a denominação tinha apenas dezenove pastores, quarenta igrejas e cerca de três mil membros. Em 1729, foi aprovado o “Ato de Adoção,” que aprovou a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster como padrões doutrinários do Sínodo. De 1741 a 1758, os presbiterianos dividiram-se em dois grupos por causa de diferenças acerca do avivamento e da educação teológica: Ala Velha (Sínodo de Filadélfia) e Ala Nova (Sínodo de Nova York).
A Revolução: nesse período de divisão, vários evangelistas notáveis como Samuel Davies, Alexander Craighead e Hugh McAden trabalharam com grande êxito no sul do país, especialmente na Virgínia e nas Carolinas. Durante a Revolução Americana, os presbiterianos tiveram uma atuação destacada. O Rev. John Witherspoon (1723-1794), um escocês que foi presidente da Universidade de Princeton por vinte e cinco anos, foi o único pastor que assinou a Declaração de Independência dos Estados Unidos, em 1776. Muitos presbiterianos lutaram na guerra da independência.
A Assembléia Geral: em 1788, o Sínodo de Nova York e Filadélfia dividiu-se em quatro (Nova York e Nova Jersey, Filadélfia, Virgínia e Carolinas). No dia 21 de maio de 1789, reuniu-se pela primeira vez a “Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América.” Naquela época, a Igreja Presbiteriana era a denominação mais influente do país. Em 1800, contava com 180 pastores, 450 igrejas e cerca de 20 mil membros.
Crescimento: em 1801, presbiterianos e congregacionais iniciaram um trabalho cooperativo conhecido como “Plano de União.” O objetivo era evangelizar com mais eficiência a população que estava indo para o oeste, a chamada “fronteira.” Foi esse o período do avivamento conhecido como Segundo Grande Despertamento. O resultado foi um avanço fenomenal. Em 1837, a Igreja Presbiteriana já contava com 2140 pastores, quase 3000 igrejas e 220 mil membros. O Seminário de Princeton foi fundado em 1812 (entre seus grandes professores estiveram Archibald Alexander, Charles Hodge, A.A. Hodge e Benjamin B. Warfield).
Divisões: devido a uma controvérsia sobre os requisitos para a ordenação de ministros, surgiu em 1810 a Igreja Presbiteriana de Cumberland, no Tennessee. Uma divisão mais séria ocorreu entre os grupos conhecidos como Velha Escola e Nova Escola, aquele sendo mais apegado aos padrões de Westminster do que este. Em 1837, a Velha Escola obteve a maioria na Assembléia Geral, cancelou o Plano de União de 1801 e excluiu quatro sínodos inteiros, dividindo ao meio a denominação. Foi criada a Junta de Missões Estrangeiras. Finalmente, em 1857 e 1861 ocorreram novas divisões, desta vez ocasionadas pelo problema da escravidão. As igrejas Nova Escola e Velha Escola do sul, favoráveis à escravidão, separaram-se das do norte. Eventualmente, foram criadas duas grandes denominações presbiterianas, a Igreja do Norte (PCUSA) e a Igreja do Sul (PCUS), que enviaram muitos missionários a todo o mundo, inclusive ao Brasil.
O Século XX: em 1903, a PCUSA alterou levemente três parágrafos da Confissão de Fé de Westminster e acrescentou-lhe dois novos capítulos: um sobre o Espírito Santo e outro sobre o amor de Deus e as missões. Mais controvertida foi uma declaração acrescentada à Confissão que atenuou as suas afirmações sobre os decretos de Deus.
Nas décadas de 1920 e 1930, a PCUSA foi abalada pela controvérsia modernista-fundamentalista. Em 1936, J. Gresham Machen, o líder dos conservadores, fundou sua própria denominação – a Igreja Presbiteriana Ortodoxa. Em 1957, a PCUSA fundiu-se com uma pequena denominação presbiteriana, surgindo a Igreja Presbiteriana Unida dos E.U.A. Apesar das dificuldades, a igreja continuou a crescer. Entre 1900 e 1957, o número de membros passou de um milhão para três milhões. Finalmente, em 1983, após mais de um século de separação, as igrejas do norte e do sul uniram-se para formar a atual Igreja Presbiteriana (E.U.A.), de tendência liberal. Antes disso, muitos elementos conservadores haviam deixado as igrejas-mães e criado duas novas denominações: a Igreja Presbiteriana da América (PCA, 1973) e a Igreja Presbiteriana Evangélica (EPC, 1981).
V. Primórdios do Calvinismo no Brasil
• Antes da chegada do Rev. Ashbel Simonton, alguns grupos e indivíduos reformados estiveram no Brasil.
Os franceses na Guanabara (1555-1567): no final de 1555, chegou à Baía da Guanabara uma expedição francesa comandada pelo vice-almirante Nicolas Durand de Villegaignon, para fundar a “França Antártica.” Esse empreendimento teve o apoio do almirante huguenote Gaspard de Coligny, que seria morto no massacre do dia de São Bartolomeu (24-08-1572).
• Em resposta a uma carta de Villegaignon, Calvino e a igreja de Genebra enviaram um grupo de crentes reformados, sob a liderança dos pastores Pierre Richier e Guillaume Chartier (1557). Fazia parte do grupo o sapateiro Jean de Léry, que mais tarde estudou na Academia de Genebra e tornou-se pastor (†1611). Ele escreveria um relato da expedição, História de uma Viagem à Terra do Brasil, publicado em Paris em 1578.
• Em 10 de março de 1557, esses reformados celebraram o primeiro culto evangélico do Brasil e talvez das Américas. Todavia, pouco tempo depois Villegaignon entrou em conflito com as calvinistas acerca dos sacramentos e os expulsou da pequena ilha em que se encontravam.
• Alguns meses depois, os colonos reformados embarcaram para a França. Quando o navio ameaçou naufragar, cinco deles voltaram e foram presos: Jean du Bordel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André Lafon e Jacques le Balleur. Pressionados por Villegaignon, escreveram uma bela declaração de suas convicções, a “Confissão de Fé da Guanabara” (1558). Em seguida, os três primeiros foram mortos e Lafon, o único alfaiate da colônia, teve a vida poupada. Balleur fugiu para São Vicente, foi preso e levado para Salvador (1559-67), sendo mais tarde enforcado no Rio de Janeiro, quando os últimos franceses foram expulsos.
• A França Antártica é considerada como a primeira tentativa de estabelecer tanto uma igreja quanto um trabalho missionário protestante na América Latina.
Os holandeses no Nordeste (1630-54): depois de uma árdua guerra contra a Espanha, a Holanda calvinista conquistou a sua independência em 1568 e começou a tornar-se uma das nações mais prósperas da Europa. Pouco tempo depois, Portugal caiu sob o controle da Espanha por sessenta anos – a chamada “União Ibérica” (1580-1640).
• Em 1621, os holandeses criaram a Companhia das Índias Ocidentais com o objetivo de conquistar e colonizar territórios da Espanha nas Américas, especialmente uma rica região açucareira: o nordeste do Brasil. Em 1624, os holandeses tomaram Salvador, a capital do Brasil, mas foram expulsos no ano seguinte. Finalmente, em 1630 eles tomaram Recife e Olinda e depois boa parte do Nordeste.
• O maior líder do Brasil holandês foi o príncipe João Maurício de Nassau-Siegen, que governou o nordeste de 1637 a 1644. Nassau foi um notável administrador, promoveu a cultura, as artes e as ciências, e concedeu uma boa medida de liberdade religiosa aos residentes católicos e judeus.
• Sob os holandeses, a Igreja Reformada era oficial. Foram criadas vinte e duas igrejas locais e congregações, dois presbitérios (Pernambuco e Paraíba) e até mesmo um sínodo, o Sínodo do Brasil (1642-1646). Mais de cinquenta pastores ou “predicantes” serviram essas comunidades.
• A Igreja Reformada realizou uma admirável obra missionária junto aos indígenas. Além de pregação, ensino e beneficência, foi preparado um catecismo na língua nativa. Outros projetos incluíam a tradução da Bíblia e a futura ordenação de pastores indígenas.
• Em 1654, após quase dez anos de luta, os holandeses foram expulsos, transferindo-se para o Caribe. Os judeus que os acompanhavam foram para Nova Amsterdã, a futura Nova York.
Eventos posteriores: após a expulsão dos holandeses, o Brasil fechou as suas portas aos protestantes por mais de 150 anos. Foi só no início dos século XIX, com a vinda da família real portuguesa, que essa situação começou a se alterar. Em 1810, Portugal e Inglaterra firmaram um Tratado de Comércio e Navegação, cujo artigo XII concedeu tolerância religiosa aos imigrantes protestantes. Logo, muitos começaram a chegar, entre eles um bom número de reformados.
• Após a independência, a Constituição Imperial (1824) reafirmou esses direitos, com algumas restrições. Em 1827 foi fundada no Rio de Janeiro a Comunidade Protestante Alemã-Francesa, que veio a congregar, ao lado de luteranos, reformados alemães, franceses e suíços.
• Um dos primeiros pastores presbiterianos a visitar o Brasil foi o Rev. James Cooley Fletcher (1823-1901), que aqui chegou em 1851. Fletcher foi capelão dos marinheiros que aportavam no Rio de Janeiro e deu assistência religiosa a imigrantes europeus. Ele manteve contatos com D. Pedro II e outros membros destacados da sociedade; lutou em favor da liberdade religiosa, da emancipação dos escravos e da imigração protestante. Ele escreveu o livro O Brasil e os Brasileiros (1857), que foi muito apreciado nos Estados Unidos.

• Fletcher não fez nenhum trabalho missionário junto aos brasileiros, mas contribuiu para que isso acontecesse. Foi ele quem influenciou o Rev. Robert Reid Kalley e sua esposa Sarah P. Kalley a virem para o Brasil, o que ocorreu em 1855. Kalley fundou a Igreja Evangélica Fluminense em 1858. No ano seguinte, chegou ao Rio de Janeiro o fundador da Igreja Presbiteriana do Brasil, o Rev. Ashbel G. Simonton.
fonte www.ippinheiros.org.br

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